ORIENTADORA FAMILIAR ENSINA A CASADAS COMO DEIXAR O MARIDO FELIZ


 Tem muita mulher precisando


Cena do filme “Dança Comigo” (Foto: Divulgação)

As amigas elogiam muito o vestido Dior, a bolsa Fendi e os sapatos Chanel da psicóloga (“mas não exerço”) Maria Cecília*, 35 anos, que prefere cuidar da casa a trabalhar fora: “Optei por ser esposa, mãe e administradora do lar”, diz ela. Mas seu maior orgulho não é o traje nem a família, são os cabelos. Obedientes como os de um anúncio de xampu, os fios retornam ao mesmo ponto a cada pequeno deslocamento da cabeça, enquanto Maria Cecília assiste a uma palestra intitulada “como ressuscitar o casamento e deixá-lo irresistível para sempre”. Marcado em uma terça-feira útil, o evento reúne cerca de 80 mulheres com idades que vão de 30 a 45 anos, todas igualmente viçosas e atentas, em um bufê infantil de Moema, na zona sul de São Paulo.
A professora é uma mulher de cerca de 60 anos chamada Maria Teresa, vulgo Tetê, que se apresenta como “orientadora familiar”. Cabelos altos à frente e batidos na nuca, ela está com um tailleur marfim, sapatos fechados caramelo e unhas pintadas de um rosa esmaecido. Diz que se formou em “família” na Espanha — terra do cineasta Pedro Almodóvar, diretor, entre outros, de “Mulheres a Beira de Um Ataque de Nervos”.
Futebol e cervejinha
Mãe de “três homens feitos”, a orientadora fala com a experiência de quem passou 40 anos casada com “um marido nada fácil”, “administrando escola, supermercado e empregados em uma casa movimentada”. “É preciso permitir que os homens sejam como são”, recomenda Tetê. “Uma companheira de verdade desenvolve um interesse genuíno pelo marido. Se precisar, toma uma cervejinha com ele, assiste ao futebol e discute a apólice de seguro do carro.”
Ao lado de Maria Cecília, a boleira Fernanda, 42, e a designer de joias Bebel, 38, fazem um sinal afirmativo com a cabeça, num silêncio reverencial, como que aprovando os ensinamentos da Tetê. Algumas alunas tomam notas em pequenos moleskines.
Em um tom carregado de pertinência, a mestra chama a atenção para a importância de não brigar com o marido na presença dos filhos (“caso contrário, eles podem crescer inseguros”) e também de “soltar” frases afirmativas de apoio ao companheiro: “Se ele chegou estressado por causa dos negócios, diga: ‘Conte comigo’, mesmo que você não tenha ideia do que se trata.”
Comédia romântica
Como não existe a menor possibilidade de uma blitz femininista no bufê, Tetê voa em céu de brigadeiro. Importante registrar que não há homens no ambiente e que, então, ela fala por eles.
Muito leve, o discurso dela é salpicado de humor. Diz a professora: “Quando um casal assiste a uma comédia romântica, as reações dos dois são diferentes. Enquanto ela chora de se acabar, ele dorme de roncar.” Na audiência, todas riem sem abrir muito a boca, para não estragar a maquiagem.
No auge do aconselhamento, Tetê passa num telão uma cena do filme “Dança Comigo” ( 2004), em que o personagem John Clark (Richard Gere) sobe a escada rolante de uma loja de departamentos vestindo smoking, com uma rosa na mão, e a entrega à mulher, Bervelly (Susan Sarandon). As vendedoras se emocionam. “É pra você”, diz ele, com um sorriso acanhado. As alunas de Tetê seguram a respiração. Num arrebatamento de cupido, a professora pergunta: “Não é maravilhoso?” Ouvem-se murmúrios afirmativos no salão do bufê infantil: “Ahã”, sorri uma aluna; “Oh, yes”, diz outra; “Hmm”, sonha uma terceira. E Tetê: “Pois saibam que isso existe”, garante. “Não é coisa de filme de Hollywood não!”
Porém, como nem todo dia Bervelly está disposta a atender os desejos de John, Tetê aconselha: “Se não estiver a fim quando ele a procurar na cama, seja prática. Não custa perder 15 minutos para fazê-lo feliz. Ele fica tão relaxadinho.” Pela manhã, se precisar despertá-lo, “faça-o com pequenos toques físicos”. “Nunca fale ao acordá-lo. Ponha apenas a mão no ombro dele.”
Marido perfeito
Sim, “é preciso regar a plantinha”. No dia a dia, diz a professora, “funciona deixar mensagens delicadas, como um coraçãozinho no mouse do computador”. Outra dica valiosa: “Nenhum homem gosta de andar armado com um canhão. Mantenha-se em forma, livre-se daquela camisolinha puída e não deixe de pintar as unhas dos pés porque é inverno”.
Para evitar que as meninas se percam, a orientadora familiar mostra no power-point a ilustração de uma pirâmide de qualidades do marido perfeito. Ela informa que quem quiser pode pegar uma cópia do desenho ao fim da aula. São cinco itens que ela, Tetê, considera importante encontrar no parceiro: da base para o cume, lê-se “afetuoso”; “conversador”; “honesto”; “apoio financeiro”e “comprometido”. A explicação: “Uma esposa companheira, amiga, presente, terá um marido conversador; uma parceira sexual ‘fabulosa’ costuma gerar um marido afetuoso; uma esposa atraente pode ter como consequência um marido mais honesto; uma esposa que admira o marido pode gerar um companheiro mais comprometido com a família e com ela própria!!”
Maria Cecília e suas colegas de turma, que pagaram R$ 150 cada uma para participar da palestra, deixam o bufê infantil “com um gostinho de ‘quero mais’”. “Eu até percebia tudo isso, mas a Tetê deu o caminho das pedras”, acha Bebel. “Ela é fantástica, vou recomendar”, afirma a pedagoga (“mas não exerço”) Paty, 43.
As identidades das pessoas estão alteradas porque as envolvidas pediram para não citá-las , mas o blog achou importante compartilhar as lições de Tetê no bufê infantil.
Blog do Paulo Sampaio – UOL

Postar um comentário

0 Comentários